Páginas

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Dica de Leitura





Estou lendo um livro muito bom e quero deixar de dica para vocês. Vale a pena conferir!

O título do livro é Professora sim, tia não - Cartas a quem ousa ensinar - Paulo Freire

Abaixo estão alguns trechos que eu considero importante.








"Quem já viu dez mil “tias” fazendo greve, sacrificando seus sobrinhos, prejudicando-os no
seu aprendizado? E essa ideologia que torna o protesto necessário da professora como
manifestação de seu desamor aos alunos, de sua irresponsabilidade de tias, se constitui
como ponto central em que se apóia grande parte das famílias com filhos em escolas
privadas. Mas também ocorre com famílias de crianças de escolas públicas. 
Me lembro agora de como o então presidente da Associação de Professores do
Ensino Oficial do Estado de São Paulo – Apeoesp –, professor Gumercindo Milhomem,
alguns anos passados, respondeu à acusação de famílias de alunos das escolas da rede
estadual, em greve, num programa de televisão. As famílias acusavam os professores de
prejudicar seus filhos, descumprindo o seu dever de ensinar, a que Gumercindo
respondeu que havia um equívoco na acusação. Professoras e professores em greve,
dizia ele, estavam ensinando, estavam dando a seus alunos, pelo seu testemunho de luta,
lições de democracia (de que tanto precisamos neste país, acrescento agora)". (p.10)

"É preciso gritar alto que, ao lado  de sua atuação no sindicato, a formação
científica das professoras iluminada por sua clareza política, sua capacidade, seu gosto
de saber mais, sua curiosidade sempre desperta são dos melhores instrumentos políticos
na defesa de seus interesses e de seus direitos. Entre eles, por exemplo, o de recusar o
papel de puras seguidoras dóceis dos pacotes que sabichões e sabichonas produzem em
seus gabinetes numa demonstração inequívoca, primeiro de seu autoritarismo; segundo,
como alongamento do autoritarismo, de sua absoluta descrença na possibilidade que
têm as professoras de saber e de criar.
E o curioso nisso tudo é que, às vezes, os sabichões e as sabichonas que elaboram
com pormenores seus pacotes chegam a explicitar mas quase sempre deixam implícito
em seu discurso, que um dos objetivos precípuos dos pacotes, que não chamam assim, é
possibilitar uma prática docente que forje mentes críticas, audazes e criadoras. E a
extravagância de uma tal expectativa está exatamente na contradição chocante entre o
comportamento apassivado da professora, escrava do pacote, domesticada a seus guias, 



limitada na aventura de criar, contida em sua autonomia e na autonomia de sua escola e 



o que se espera da prática dos pacotes: crianças livres, críticas, criadoras.
Creio que um dos caminhos táticos para professoras competentes, politicamente
claras, críticas que, recusando ser tias se afirmam profissionalmente como professoras,
é desmistificar o autoritarismo dos pacotes e das administrações  pacoteiras,  na
intimidade de seu mundo, que é também o de seus alunos. Na sala de aula, fechada a
porta, dificilmente seu mundo é desvendado."  (p.12)

"Neste sentido, a avaliação da prática é fator importante e indispensável à formação
da educadora. Quase sempre, lamentavelmente, avaliamos a pessoa da professora e não  



sua prática. Avaliamos para punir e não para melhorar a ação dos sujeitos e não para 









formar.
“Como esperar de autoritários e autoritárias a aceitação do desafio ele aprender
com os outros, de tolerar os diferentes, de viver a tensão permanente entre a paciência e
a impaciência como esperar do autoritário ou autoritária que não esteja demasiado
certos de suas certezas? O autoritário, que se alonga em sectário, vive no ciclo fechado
de sua verdade em que não admite nem dúvidas em torno dela, quanto mais recusas.
Um: administração autoritária foge da democracia como o diabo da cruz.
A continuidade administrativa de cuja necessidade se ver falando entre nós só
poderia existir plenamente se, na verdade a administração da coisa pública não estivesse 



envolvida com sonhos e com a luta para materializá-los. Se a administração da cidade, 



do estado, do país fosse uma coisa neutra; se a administração da coisa pública pudesse  




ser reduzida, em toda a sua extensão, a um puro fazer técnico, fazer que, por sua vez, 





enquanto técnico, pudesse ser neutro. E isso não existe.” ( p. 14)


"O que me parece lamentável é que obras materiais ou programas de natureza
social sejam abandonados exclusiva ou preponderantemente porque o novo
administrador tem raivas pessoais de seu antecessor. Por isso, então, paralisa o anda-
mento de algo que tinha significação social.
Por outro lado, não vejo por que, nem como, uma administração que assume o
governo com discurso e propostas progressistas deva manter, em nome da continuidade






administrativa, programas indiscutivelmente elitistas e autoritários." ( p.15)

"Finalmente a tese de  Professora, sim; tia, não,  é que, enquanto tios e/ou tias e/ou
professores, todos nós temos o direito ou o dever de lutar pelo direito de ser nós mesmos, de
optar, de decidir, de desocultar verdades.  
Professora, porém, é professora. Tia é tia. É possível ser tia sem amar os sobrinhos, sem
gostar sequer de ser tia, mas não é possível ser professora sem amar os alunos – mesmo que 
amar, só, não baste – e sem gostar do que se faz. É mais fácil, porém, sendo professora, dizer 
que não gosta de ensinar, do que sendo tia, dizer que não gosta de ser tia. Reduzir a professora a 
tia joga um pouco com esse temor embutido – o de tia recusar ser tia.
Não é possível também ser professora sem lutar por seus direitos para que seus
deveres possam ser melhor cumpridos. Mas, você que está me lendo agora, tem todo o 


direito de, sendo ou pretendendo ser professora, querer ser chamada de tia ou continuar 


a ser. 


Não pode, porém, é desconhecer as implicações escondidas na manha ideológica 


que envolve a redução da condição de professora à de tia." (p.18)


Nenhum comentário: